2 de out. de 2010

Eu e minha boca grande

Comprei o livro gigante de astronomia em inglês que vi na Saraiva. Enquanto estava no caixa pagando, pai e filho conversavam atrás de mim. O garoto, lá com seus 10 anos, foi questionado:

- Filho, sabe quem foi Anne Frank?

Como era de se esperar, o menino fez sinal de indiferença. Então, vieram explicações:

- Anne Frank foi uma judia que viveu na época da Segunda Guerra Mundial...

Naquele momento, lembrei-me de quando tinha a idade do guri. O mundo era um lugar enorme e divertido. O tempo passava devagar. Guerras eram bobas, nada mais do que brincadeiras de menino. Falaram-me sobre Hitler. Mas eu não conhecia quem... ou melhor, o que era Hitler. Mal entendia essa história de perseguição aos judeus. Na real, nem sabia que judeus eram/são perseguidos.

Certamente, o garotinho atrás de mim também não compreendia nem dava a mínima para o que lhe era dito. I don't know why, me virei e disse:

- "O Diário de Anne Frank" é um bom livro. Você tem que ler quando estiver maior.

O pai sorriu em minha direção. Peguei a sacola no caixa e fui embora. Duas palavras na cabeça... "(...)bom livro"... O que ele tem de bom???

Tinha alguma coisa naquela seringa e não era imunização

Lá fui eu tomar mais vacina. Da sala de espera, escuto uma criança chorando e berrando enlouquecidamente. Eu e a Ari trocamos olhares arregalados. Segundos depois, a porta se abre. Um garotinho sai agarrado ao pai, com rosto cheio de lágrimas. Aparece a enfermeira que me aturou umas duas semanas antes:

- Vanessa de Araújo?

É, ninguém ousa pronunciar "Dechen", apesar de ser da forma mais óbvia possível. Levanto-me e entro na salinha. Olho o papel de parede de bichinhos: elefantes, girafas, macacos... Tento memorizar a ordem na qual eles aparecem. Escuto música. Ipod é uma ótima companhia para evitar que eu morda as mãos de alguém.

Ouvia Skank quando, já com a seringa na mão, a mulher passa álcool um pouco abaixo do meu ombro, na parte de trás do braço. Perto do suvaco! PERTO DO SUVACO! Quase nas axilas! Como assim??? Aham. Ah, tá. Como se eu aguentasse.
Tudo bem, eu aguentei. Mas Arielle e a enfermeira tiveram que me segurar, porque senti cócegas. E quando digo que senti cócegas, refiro-me a gargalhadas nem um pouco discretas, provavelmente ecoadas pelos quatro cantos da clínica. Naquele local onde, há 15 minutos, um menininho berrava, eu ria. Muito. Alto. Mais alto do que minha tia Sônia. Ri tudo o que não ri durante a semana.