- Filho, sabe quem foi Anne Frank?
Como era de se esperar, o menino fez sinal de indiferença. Então, vieram explicações:
- Anne Frank foi uma judia que viveu na época da Segunda Guerra Mundial...
Naquele momento, lembrei-me de quando tinha a idade do guri. O mundo era um lugar enorme e divertido. O tempo passava devagar. Guerras eram bobas, nada mais do que brincadeiras de menino. Falaram-me sobre Hitler. Mas eu não conhecia quem... ou melhor, o que era Hitler. Mal entendia essa história de perseguição aos judeus. Na real, nem sabia que judeus eram/são perseguidos.Certamente, o garotinho atrás de mim também não compreendia nem dava a mínima para o que lhe era dito. I don't know why, me virei e disse:
- "O Diário de Anne Frank" é um bom livro. Você tem que ler quando estiver maior.
O pai sorriu em minha direção. Peguei a sacola no caixa e fui embora. Duas palavras na cabeça... "(...)bom livro"... O que ele tem de bom???
Tudo bem, eu aguentei. Mas Arielle e a enfermeira tiveram que me segurar, porque senti cócegas. E quando digo que senti cócegas, refiro-me a gargalhadas nem um pouco discretas, provavelmente ecoadas pelos quatro cantos da clínica. Naquele local onde, há 15 minutos, um menininho berrava, eu ria. Muito. Alto. Mais alto do que minha tia Sônia. Ri tudo o que não ri durante a semana.